Larissa

Conceitos: 

Lugar

Lugar é uma área com significado afetivo para um indivíduo. Para ser caracterizado como lugar o espaço deve ser dotado de valor. Para Yi Fu Tuan, o conceito de lugar implica no entendimento da relação de temporalidade e significação do espaço em questão.

“Lugar é uma mistura singular de vistas, sons e cheiros, uma harmonia ímpar de rítmos naturais e artificiais (…) Sentir um lugar é registrar pelos nossos músculos e ossos”. 

TUAN, Yi-Fu, Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência. 1930. Tradução de Lívia de Oliveira, São Paulo: Difel, 1983

“O valor simbólico do espaço está contido na sua proposta de pesquisar a tipofilia, para ‘determinar o valor humano dos espaços de posse, espaços proibidos a forças adversas, espaços amados’. A relação psicológica do homem com o seu espaço encontra-se também na base de sua proposta de  topoanálise, ou seja, um estudo psicológico sistemático dos lugares fisicos de nossa vida íntima. É importante reter o elo afetivo entre a pessoa e o lugar, ou ambiente físico, como um componente do imaginário social e das paixões que constituem os alicerces das relações sociais.” (CASTRO, 1997, p.171 – grifos da autora)

Não-lugar

Um lugar não relacional, não identitário e não histórico. Espaço de passagem incapaz de dar forma a qualquer tipo de identidade.

AUGÉ, Marc. Não-lugares: introdução a uma antropologia da modernidade. Bertrand, 1994.

“Produz-se no espaço global um lugar, que nega o local, sendo portanto, um não-lugar. Neste caso o turista viaja falsamente, sem sair do seu lugar, quase nada acrescentando à sua experiência pessoal.”

ADYR, A Balastreri Rodrigues. Lugar, não lugar e realidade virtual no turismo globalizado. Revista do departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. Volume 6, 2011.

Realidade virtual

“A expressão realidade virtual, embora cunhada recentemente, refere-se a algo que, em certo sentido, sempre foi do conhecimento de todos. Os acontecimentos descritos em obras literárias de ficcção ou exibidos na maioria das peças de teatro, filmes e novelas apresentam uma realidade virtual – isto é, uma realidade que, conquanto não exista no plano real, existe no plano do potencial ou imaginado, portanto virtual.

[…]A realidade dita virtual na sociedade contemporânea é uma realidade que se distingue, conceitualmente, do reino do ficcional e do imaginário. […].

A realidade virtual é uma realidade tornada possível pela revolução da informática – dos computadores e das telecomunicações.”

CHAVES, Eduardo O.C. Virtualização da realidade. Computadores e telecomunicações permitem o desenvolvimento de atividades que dão nova dimensão ao conceito de realidade virtual. Comunicação & Eduacação, São Paulo, 1999, p. 26.

Percepcão sensível

“A percepção sensível é o contato imediato e primário com a realidade e a posterior reflexão do real pela mente produz as imagens dotadas de diferentes significados. Por este processo é que os significantes semelhantes poderão ter uma essência sígnica diametralmente adversa, portanto a representação pode ser entendida também como significante, pois o representado está ligado ao que se vê ou ao que se deixa mostrar, através da simbolização arraigada neste intermeio.”

ARAÚJO, Gilvan e REIS JR, Dante. As representações sociais no espaço geográfico. Geo Temas: Rio Grande do Norte, 2012.

“O turismo introduz novos códigos culturais e propõe novos sistemas de símbolos baseados em imagens que substituem a realidade e conduzem a julgamentos segundo códigos impostos pela mídia.”

ADYR, A Balastreri Rodrigues. Lugar, não lugar e realidade virtual no turismo globalizado. Revista do departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. Volume 6, 2011.

Narrativas:

De si

Ali também foram criados diversos espaços imaginários, como cozinha de mentira, estacionamento de carrinhos de mentira, barranco de mentira a beira do balanço pendurado na mangueira, este último era real mas fazia parte de um lugar imaginário. Suas partes reais, refiro-me as que todos podem ver, como o balanço, fizeram parte de espaços imaginários dos muitos familiares que ali brincaram na infância.

Com tantas pessoas assim visitando a casa, muitas relações foram estabelecidas ali, boas e más notícias foram dadas, experiências foram compartilhadas, dotando o lugar de memórias diferentes e individuais, que pela visualização da velha casinha, automaticamente são levados aos tempos passados.

Hoje aquele lugar não é fisicamente ao que era antes, mas as alterações físicas não significam alterações nas memorias ali existentes.

Do outro

Se este mesmo individuo é indagado sobre um lugar que desconhece pessoalmente, como um destino turístico, ele então se voltará ao imaginário, este criado por informações advindas da mídia como revistas, jornais, propaganda veiculada na televisão, comentários de pessoas que já conhecem. De alguma forma, mesmo sem nunca ter estado fisicamente neste lugar, é possível descrever suas impressões a partir do seu imaginário.

Além das sensações de conhecer o lugar fisicamente, estabelecer relações com outras pessoas em um mesmo lugar, e não conhecer pessoalmente um lugar e mesmo assim poder descrevê-lo, o individuo também pode entender um nao-lugar, este último será provavelmente descrito de forma breve, pois sendo a maioria dos não-lugares, locais de passagem, não há relação deste indivíduo nem de observação, tampouco de vivencias pessoais relevantes, não é dotado de significado.

Relatos:

Relato I

Trabalhar como agente de viagens é, muitas vezes, conhecer em realidades virtuais diversos destinos, e conhecer pessoalmente apenas alguns.

Entendo aqui como conhecer em realidade virtual, experiências não apenas mediadas pelas tecnologias e computadores, mas também leitura de livros, revistas, mídia, imagens, informações sobre os destinos de diversas fontes, relatos de viagem de colegas, feedbacks dos próprios passageiros, que contribuem para a construção do imaginário, por exemplo, um lugar chamado “Bangkok” como lembrança mental que nunca conheci.

Na maioria das vezes, os clientes entendem que trabalhando todos os dias com este destino real/imaginário temos informações precisas e realmente temos, mas quando dizemos “eu conheço pessoalmente” a segurança de quem compra uma viagem a um local bem diferente de sua realidade (principalmente no que tange à cultura), é percebida nitidamente.

Assim as simulações de realidade dentro do imaginário de um agente/consultor de viagens para destinos desconhecidos pessoalmente são muito comuns, e podem tornar-se quase que totalmente o contrário do imaginado quando acontece o contato localmente no destino.

Vê-se a grande distância entre a narrativa do que se espera encontrar narrativa do que se espera encontrar na viagem, a experiência local e a narrativa no retorno sobre as novas impressões.

Por experiência, conheci localidades que eram quase que exatamente como imaginado e outras que eram o exato oposto em termos de organização da sociedade e cultura, mas todas as viagens com certeza esclarecem muito ao imaginário construído e o conjunto das informações coletadas antes, vivenciais e informações e conclusões possteriores, formam com certeza um entendimento global e amplo do que é visitar determinado destino, provando mais uma vez que as novas tecnologias não substituem as antigas e a realidade virtual não substitui as interações pessoais.

Imagens:

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Desenhos:

lari2006

THESIMS-RV

Vídeo:

 

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